Instituição adota estratégia agressiva, incluindo a compra do First
Republican, e lucra US$ 38,9 bilhões até setembro, mais do que os
outros três grandes bancos dos EUA somados.
Num ano difícil para o sistema bancário dos Estados Unidos, marcado pela quebra
de quatro bancos regionais entre março e maio em meio à alta de taxa de juros para
combater a inflação, o J.P. Morgan Chase conseguiu uma proeza: registrou lucro
recorde de US$ 38,9 bilhões nos nove primeiros meses do ano, quase um quinto dos
lucros de todos os bancos americanos.
Para se ter uma ideia do ótimo desempenho do J.P. Morgan, sua parcela de lucro
entre todas as instituições bancárias, de 18%, foi a maior registrada no país desde
2009. Sozinho, o J.P. Morgan lucrou mais que os outros três grandes bancos
somados, Bank of America (BofA), Wells Fargo e Citigroup.
Os números -- levantados pelo BankRegData, que compila os dados bancários dos
EUA, e divulgados pelo jornal britânico Financial Times – consolidam o J.P. Morgan
como a maior instituição bancária do país em quase todos os indicadores, incluindo
lucros, depósitos e agências.
Os lucros vieram de subsidiárias com depósitos segurados pelo FDIC (órgão do
governo americano responsável pela segurança dos depósitos bancários) e dos
braços comercial e de varejo do banco, além da sua divisão de investimento e
negociação, áreas em que nem todos os concorrentes do J.P. Morgan atuam.
A maioria dos grandes bancos americanos se beneficiou do aumento das taxas de
juros, o que lhes permite aumentar as margens ao impor taxas mais elevadas aos
mutuários mais rapidamente do que as repassam aos depositantes.
Além disso, os analistas atribuem o sucesso do J.P. Morgan em 2023 a duas
iniciativas bem-sucedidas. Uma delas foi o investimento pesado, de quase US$ 16
bilhões, em tecnologia e novos produtos, ao longo do ano.
A outra foi a estratégia adotada em meio à crise bancária do primeiro semestre nos
EUA, que atingiu bancos de pequeno e médio porte. Aproveitando uma oportunidade
de aquisição, o J.P. Morgan comprou em maio o First Republican, após o colapso do
banco de porte médio com sede na Califórnia.
Foi, na prática, o mesmo movimento feito pelo J.P. Morgan durante a crise financeira
de 2008, quando adquiriu o Bear Stearns e o Washington Mutual.
Os ganhos com a compra do First Republican foram imediatos. No segundo
trimestre de 2023, quando o negócio foi fechado, o J.P. Morgan ganhou quase 20
centavos de cada dólar de lucro reportado pelos bancos americanos, de acordo com
o BankRegData, acima dos 12 centavos do ano anterior.
“O J.P. Morgan Chase tem sido muito eficaz em estar no lugar certo, na hora certa,
quando havia vendas problemáticas disponíveis”, disse Eric Rosengren, ex-
presidente do Fed de Boston, ao Financial Times.
Concorrência em apuros
Os problemas enfrentados pelos principais concorrentes completam o quadro. O
BofA amargou este ano mais de US$ 100 bilhões em perdas com títulos do Tesouro
adquiridos na preparação para o aumento das taxas de juros pelo Fed.
O Wells Fargo enfrenta, desde 2018, um limite de ativos como punição pela abertura
de milhões de contas falsas, o que reduziu sua lucratividade. Já o Citi ainda está às
voltas com uma reorganização após anos de desempenho abaixo da média.
Os números surpreendentes do J.P.Morgan também refletem dez anos de
investimentos e 17 anos de boa governança, iniciada em 2006, quando Jamie Dimon
se tornou o CEO.
Naquele ano, o J.P. Morgan detinha cerca de 8% dos depósitos bancários dos EUA,
ficando atrás do BofA e apenas um pouco à frente do Citi. Agora tem US$ 2,5 bilhões.
em depósitos, mais de 13% do total do setor bancário e à frente do BofA, cuja
percentagem de depósitos aumentou apenas marginalmente nesse período.
Houve também, nesse período, um enxugamento do setor bancário. Dos 7,6 mil
bancos existentes nos EUA em 2006, restam cerca de 4,6 mil – a maioria de pequeno
e médio porte, com menos de US$ 10 bilhões em ativos.
O J.P. Morgan, por sua vez, continuou crescendo, ultrapassando o Wells Fargo em
2021 como o banco com mais agências nos EUA.
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