Especialistas apontam os sinais de esgotamento e sugerem buscar ajuda de
um profissional.
Não fomos todos Naomi Osaka em algum momento de nossas vidas?
Ok, talvez nunca saibamos como é ser a segunda no ranking do tênis
feminino ou a atleta feminina mais bem paga do mundo.
Mas, assim como a estrela do tênis, muitos de nós ficamos presos em
situações prejudiciais à nossa saúde mental — no trabalho ou em nossas
vidas pessoais — sentindo-se dividido entre as expectativas da sociedade
e a autopreservação.
Osaka, por exemplo, decidiu cuidar de si mesma antes do Torneio de
Roland Garros, na França, quando anunciou que não “daria nenhuma
entrevista coletiva”, porque as coletivas de imprensa poderiam ser
prejudiciais à saúde mental dos jogadores. Fiel à sua palavra, depois de
vencer partida de primeira rodada no domingo, ela faltou à entrevista
coletiva pós-jogo. Como explicado mais tarde em um post no Instagram,
ela estava se sentindo vulnerável, ansiosa e os eventos da imprensa lhe
dão “enormes ondas de ansiedade”.
A decisão da tenista de evitar os repórteres não foi bem recebida pelos
dirigentes do tênis. Osaka foi multada em US$ 15.000 e os líderes dos
quatro torneios do Grand Slam — os Abertos da Austrália, França,
Estados Unidos e Wimbledon — ameaçaram expulsá-la do torneio
francês.
Após o episódio, Osaka anunciou que se retiraria do campeonato. “A
verdade é que sofri longos períodos de depressão desde o US Open, em 2018, e tive muita dificuldade em lidar com isso”, ela escreveu nas redes
sociais.
Independente do tipo de trabalho que você faz, ele pode afetar sua saúde
mental e vice-versa. Da mesma forma que Osaka, você tem escolhas
quando se trata de preservar e melhorar seu bem-estar.
— Nós não a culparíamos se ela tivesse torcido o tornozelo. Mas quando
se trata de saúde mental, que sabemos que é igualmente, se não mais
importante do que sua saúde física, temos esse padrão arbitrário do que é
aceitável e do que não é — disse Benjamin F. Miller, diretor de estratégia
da Well Being Trust, uma fundação nacional focada em saúde mental e
bem-estar.
Uma pesquisa com mais de cinco mil funcionários realizada no ano
passado pelo grupo de defesa Mental Health America descobriu que 83%
dos entrevistados se sentiam emocionalmente esgotados do trabalho e
71% concordavam que o local de trabalho afeta sua saúde mental.
Embora os participantes do estudo não fossem representativos da
população em geral — eles provavelmente encontraram a pesquisa ao
visitar as ferramentas de triagem de saúde mental da organização — suas
respostas mostram o quão ansiosos alguns trabalhadores ficaram.
Mulheres e pessoas negras podem suportar uma quantidade
desproporcional de estresse emocional dentro e fora do local de trabalho.
De acordo com dados federais, as mulheres são pelo menos duas vezes
mais propensas a ter depressão do que os homens. Já os negros são
menos propensos do que os brancos não hispânicos a receber tratamento
para depressão ou medicamentos prescritos para saúde mental. Um
relatório de 2020 da Lean In e da McKinsey & Company observou que as
mulheres negras eram menos propensas a obter o apoio necessário para
avançar nos trabalhos do que as mulheres brancas.
Osaka, que é descendente de negros e asiáticos, agiu de forma admirável
quando defendeu suas necessidades, disseram vários especialistas em
saúde mental. Pode ser benéfico para todos nós estarmos atentos a sinais
de que podemos precisar fazer mudanças no trabalho ou obter ajuda.
— Todo mundo tem alguma consciência de seu funcionamento básico no
trabalho — disse Jessi Gold, psiquiatra da Universidade de Washington
em St. Louis. Então, se você começar a perceber que está perdendo o
interesse em seu trabalho ou sua produtividade despenca, é uma
indicação de que algo está errado, segundo ela.
Você pode perceber, por exemplo, que tem medo de começar a trabalhar
todos os dias ou se sente tão ansioso que tem dificuldade em pensar em
tudo o que deveria fazer. Talvez seus e-mails estejam se acumulando e
você não esteja se comunicando com as pessoas tanto quanto faria
normalmente. Se você está se sentindo ineficaz no trabalho, também
pode começar a se envolver em uma conversa interna mais negativa,
como “eu não sou bom no meu trabalho de qualquer maneira. Sou
inútil”, disse Gold.
Um sinal de alerta ainda maior de que o trabalho está afetando sua saúde
mental é se o trabalho afundar seu humor a ponto de começar a
prejudicar seus relacionamentos pessoais, acrescentou. Por exemplo,
você pode descobrir que está brigando mais com seu parceiro, ficando
mais irritado com seus filhos ou evitando atividades sociais de maneiras
que normalmente não faria.
Pense no que pode estar causando esses sentimentos. Existe um aspecto
de suas responsabilidades de trabalho que está causando a maior parte
dessa angústia? Você tem um problema de saúde subjacente, como
depressão, que não foi tratado? É alguma combinação dos dois?
Tenha suporte
Quando perceber que precisa de ajuda, procure um amigo de confiança,
mentor, colega de trabalho, grupo de colegas ou terapeuta, disse Inger
Burnett-Zeigler, professora associada de psiquiatria e ciências
comportamentais da Northwestern University Feinberg School of
Medicine, que pesquisa a saúde mental das mulheres negras.
— (Este deve ser um lugar) onde você pode se sentir visto, ouvido e
validado, um lugar onde você pode ser totalmente autêntico sem medo
de julgamento ou repercussões negativas — acrescentou.
Muitos empregadores oferecem programas de assistência aos
funcionários com uma variedade de serviços, incluindo aconselhamento
de curto prazo de terapeutas licenciados ou referências a especialistas
externos que podem ajudar com o problema específico que você está
tendo. Esses serviços são frequentemente considerados confidenciais,
mas mesmo assim, alguns funcionários podem se sentir desconfortáveis
em usá-los.
Sua empresa também pode ter parcerias com outras organizações que
oferecem aulas de bem-estar ou coaching de carreira gratuito. Vale a
pena investigar todas as opções, disseram os especialistas. progressistas na forma como têm administrado e tratado questões de
saúde mental nos últimos anos — disse Michael Thompson, presidente e
executivo-chefe da National Alliance of Healthcare Purchaser Coalitions
— A pandemia realmente reforçou isso em abundância —
A organização de Thompson fez recentemente uma pesquisa online com
151 empregadores que compram serviços de saúde e descobriu que 72%
estavam buscando melhorar o acesso à saúde mental de seus
funcionários e 16% estavam pensando em fazer isso nos próximos um ou
dois anos.
Defina limites
Depois de encontrar uma pessoa de apoio para ouvi-lo, juntos vocês
podem começar a elaborar um plano para melhorar sua vida profissional
e seu bem-estar emocional.
Pense no que você mais precisa: é uma acomodação, como uma licença
por invalidez de curto prazo, ou simplesmente ajudaria a ter mais
flexibilidade em seu horário de trabalho? Você precisa definir limites de
quando e com que frequência você responde às mensagens de trabalho?
Antes de abordar isso com seu supervisor, certifique-se de considerar
como a solução proposta funcionaria no contexto de sua equipe, porque é
isso que seu empregador também deseja saber. Em outras palavras,
mostre como sua ideia beneficiará o grupo como um todo.
— Se você está realmente estressado e tem um problema de saúde mental
com o qual está lutando, é muito difícil pensar na equipe de forma mais
ampla — disse John Quelch, reitor da Miami Herbert Business School em
Coral Gables, na Flórida, e coautor do livro “Gestão Compassiva da
Saúde Mental no Local de Trabalho Moderno”. Mesmo assim,
acrescentou, “você tem que tentar entrar na cabeça do seu empregador”.
Durante a pandemia, os problemas de saúde mental se difundiram. Um
relatório dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças concluiu que,
em junho de 2020, 40% dos adultos nos Estados Unidos estavam
lutando com problemas de saúde mental ou uso de substâncias.
Não há problema em ser aberto e admitir para si mesmo e para aqueles
em quem confia que está lutando, disse Paul Gionfriddo, presidente e
executivo-chefe da Mental Health America. Na verdade, ele acrescentou:
"A maioria dos bons empregadores vai perguntar: 'O que posso fazer
para ajudá-lo?'"
Você também pode decidir manter suas preocupações particulares e
abordá-las com seu terapeuta e tudo bem também. Criar limites de
trabalho saudáveis é vital, dizem os especialistas.
— Lembre-se de que você é um ser humano digno e valioso, separado de
sua função de trabalho, produtividade e até mesmo como você pode ser
avaliado por outros. Quando sentimentos de dúvida e não pertencimento
aparecerem, não perca de vista os talentos e ideias únicos que você traz
para o local de trabalho — disse Burnett-Zeigler.
Mas diga se seus esforços para lidar com seu bem-estar emocional em
seu trabalho fracassaram ou que o ambiente de trabalho se tornou tóxico.
Nesse caso, disseram os especialistas, é melhor, provavelmente, começar
a procurar outro emprego, especialmente se você se tornou alvo de
ridicularização, ameaças ou comentários abusivos de um gerente.
É ilegal que um empregador o discrimine simplesmente porque você tem
problemas de saúde mental. De acordo com a Comissão de
Oportunidades Iguais de Emprego dos EUA, se você tiver uma condição
qualificada como depressão ou transtorno de estresse pós-traumático,
você tem o direito legal a uma acomodação razoável que o ajude a fazer
seu trabalho — por exemplo, a capacidade de agendar compromissos de
terapia, um escritório tranquilo ou permissão para trabalhar em casa.
— O que precisamos fazer é reconhecer que a ansiedade é real, a
depressão é real — afirmou Gionfriddo — Este é um momento muito bom
para as pessoas fazerem essa avaliação pessoal, porque há oportunidades
de encontrar trabalhos mais significativos por aí
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